"Algo positivo do programa, porém, é isso, o
trabalhador terá um extrato de sua folha de pagamento", ressalta.
Fernanda Bompan
O cerco do fisco às empresas e até mesmo aos empregadores domésticos
deve aumentar no próximo ano com a entrada em vigor do chamado eSocial,
digitalização da folha de pagamentos. O problema é que a falta de informação e
divulgação, segundo o professor e especialista no Sistema Público de
Escrituração Digital (Sped), Roberto Dias Duarte, pode fazer com que milhares
de pessoas, principalmente aquelas que possuem funcionários dentro de casa,
como uma babá, ou que são empreendedores individuais (MEI) não atendam às
exigências do programa e tenham que arcar com multas.
Ao mesmo tempo, Duarte entende, com base em argumentações do próprio
fisco, que há pressa para a entrada em vigor do eSocial por conta das eleições,
já que os trabalhadores devem ter acesso às suas informações e controlar seus
direitos. "Algo positivo do programa, porém, é isso, o trabalhador terá um
extrato de sua folha de pagamento", ressalta.
Segundo levantamento feito por ele, com base em dados da Receita
Federal, um exemplo dessa falta de conhecimento, é que das 1,2 milhão de
empresas do lucro real e do lucro presumido que deveriam já informar o
recolhimento de PIS e Cofins, 15% ainda não o fizeram até abril. "Tem
muita gente que nem sabe que está obrigado a entregar PIS e Cofins pelo EFD
Contribuições", disse. Dias Duarte calcula que se essas empresas até este
mês estão pagando uma multa total de R$ 10,2 mil - cada mês de atraso equivale
a R$ 500 de multa.
Segundo ele, por serem empresas de médio a grande parte e que por terem
especialistas deveriam saber que estão obrigadas a atender às exigências do EFD
Contribuições não o fazem por desconhecimento, esse cenário leva a crer que
mais da metade, isto é, 7,2 milhões de empregadores domésticos e 3 milhões do
MEI não devem entregar o eSocial no prazo estabelecido pelo fisco e terão que
pagar multas - ainda a serem divulgadas pela Receita Federal.
"Para o MEI, o prazo é no segundo semestre do ano que vem. O
detalhe é que são empresas que não estão familiarizadas com o ambiente Sped.
Como os números mostram, até empresas maiores têm dificuldades para atender às
exigências já em vigor", entende o professor.
O registro de trabalhadores domésticos para os empregadores é opcional
no site do eSocial. Mas será obrigatório 120 dias após a regulamentação da Emenda
Constitucional 72 de 2013 (a PEC das Domésticas), que está na Câmara dos
Deputados.
Ao todo serão quase 15 milhões de obrigados a se adaptarem ao eSocial,
nas contas de Duarte: 8,5 milhões de empresas dos diversos portes e 7,2 milhões
de empregadores domésticos.
Questionamentos
O especialista comenta que o eSocial deve acabar com o "jeitinho
brasileiro" na relação trabalhista. "Se minha babá, por exemplo,
pedir férias neste mês, não poderei mais dar imediatamente, a lei prevê que o
aviso tem que ser feito um mês antes, e o fisco vai observar isso. Mesmo se eu
conceder as férias em setembro, mas informar que ela tirará em outubro, se ela
por acaso tiver um acidente no trabalho em outubro, a receita vai contestar, já
que ela deveria estar de férias nesse mês. E eu serei penalizado. Há um
risco", diz Duarte.
Com relação principalmente às empresas, Duarte afirma que objetivos do
Sped, como reduzir a burocracia não devem ser alcançados. "Vou ter que
informar todas as guias. A diferença que só serão feitas de uma vez só",
diz. Mesmo assim, ele não acredita que o tempo para informar os tributos ao
fisco deve ser reduzido.
Levantamento feito por ele mostra que mesmo após as primeiras obrigações
do Sped, o número de horas para atender as regras tributárias (2.600 por ano)
não mudou nos últimos 10 anos. Além disso, com relação a evitar a sonegação de
impostos, outro objetivo do Sped, o professor também não acredita que será
atingido. "Dados da FGV [Fundação Getulio Vargas] mostram que a economia
subterrânea [ou economia informal, que não arrecada tributos] aponta tendência
de estabilização", disse. Segundo a FGV e a Etco, enquanto de 2010 para
2011, a economia subterrânea com relação ao Produto Interno Bruto (PIB) caiu
0,9 ponto percentual, para 16,8%, de 2011 para 2012, recuou apenas 0,2 ponto
percentual.
"A pressa para a entrada em vigor do eSocial também é para melhorar
ligeiramente esses números. Ou seja, o que está acontecendo tem caráter
eleitoral", avalia Duarte.
Pesquisa
Em recente pesquisa feita pela Thomson Reuters no Brasil, de 700
executivos de empresas de todos os portes, 61% dos consultados apontam como
principal preocupação com o eSocial a integração dos dados de diversas origens.
A qualidade do conteúdo das informações, por sua vez, preocupa 21% dos participantes.
Em relação às mudanças nas empresas exigidas para se adequar à nova obrigação,
o principal ponto de atenção, identificado por 41% da audiência tem a ver com
as mudanças culturais.
Fonte: DCI
Matéria retirada do Portal Contadores
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